quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Troca



Imagino o quanto Clint Eastwood deve ter gostado de fazer este filme. Esta foi a primeira ideia que me surgiu quando acabei de ver A Troca, filme de 2008 e que surpreendentemente eu desconhecia. A história, baseada em fatos verídicos, se passa no fim da década de 1920 e adentra a década de 30, época em que nasceu Eastwood. Por isso, acredito que deve ter sido especial, de alguma forma, para o diretor de 80 anos. Mais uma vez a trama carrega em seu âmbito a questão da culpa, tema frequente nos longas do diretor.
O filme se baseia num caso real ocorrido em 1928. Certo dia Christine Collins (Angelina Jolie) saiu para trabalhar e deixou o filho Walter em casa, ao retornar o garoto havia desaparecido. Nesse ponto a trama começa a se desenvolver. Meses depois do desaparecimento a polícia diz ter encontrado Walter e prepara o reencontro entre mãe e filho, porém algo deu errado e o garoto encontrado pela polícia não é o filho de Christine que desde o primeiro momento reluta em aceitar a criança. Daí o título "A Troca".
A ligação imediata é com "Sobre Meninos e Lobos", filme que também se utiliza do rapto de crianças para tratar da transmissão de culpa. Contudo, em A Troca também podemos notar um forte apelo contra a corrupção, algo que associou o longa às críticas ao governo Bush nos Estados Unidos, associação que foi prontamente negada e ignorada por Clint Eastwood.
A película tem construção classicista à moda Eastwood, o que quer dizer que é um filme com poucas tomadas, som quebrado que dinamiza a exposição e iluminação que lembra em muito os filmes noir da década de 1940 e que por sua vez tem um pé no expressionismo alemão dos anos 20, o que reforça ainda mais o ambiente nostálgico do longa. Destaque para o modo como Eastwood ilumina Angelina Jolie em algumas cenas onde a personagem usa um chapéu que esconde seus olhos em sombras; o que destaca ainda mais os lábios carnudos e avermelhados da atriz.
Por sinal, a atuação de Angelina está acima da média habitual. Todos os trejeitos da atriz estão lá, os cacoetes são inegáveis, contudo, faz parte da personagem, são tiques propositais. Christine é uma mulher dos anos 20, sempre educada e de modos leves, gestos contidos mesmo nos momentos de maior pressão. Seu batom vermelho contrastando com os ternos escuros dos homens chega a ser agressivo em alguns momentos; são imagens interessantes de se ver.
Como sempre, fica claro que Clint Eastwood deseja reafirmar valores que não se fazem mais presentes em nosso tempo, para tanto o roteiro de J. Michael Straczynski (roteirista de quadrinhos e criador da série televisiva Babylon 5) é irretocável; todo o terço final do longa é dedicado à expurgar a corrupção que se mostrava a quem desejasse ver, tudo uma questão de princípios.
Um excelente filme que retoma as origens de um dos maiores atores e diretores que o mundo já viu. É impossível não torcer pela protagonista e deixar de se emocionar com a história dessa mulher. Mais uma vez Eastwood surpreende com um ótimo longa.

Direção: Clint Eastwood  Roteiro: J. Michael Straczynski 
Elenco: Angelina Jolie, John Malkovich, Jeffrey Donovan, Michael Kelly, Jason Butler Harner  

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