domingo, 1 de julho de 2012

Réquiem Para um Sonho


Voltando a falar sobre cinema (não canso disso...). Desta vez escolhi algo especial, eu tenho Dareen Aronofsky como um dos melhores diretores da atualidade (pra não falar o melhor), tanto que comentei alguns filmes dele por aqui, mas desta vez a coisa é diferente, escolhi meu filme predileto do diretor, ou seja, Réquiem Para um Sonho.
Desde o início de sua carreira (em Pi) Aronofsky sempre buscou explorar o lado psicológico de seus personagens, nem sempre de forma sutil ou mesmo delicada, preferindo "enfiar o dedo na ferida" e ir fundo nos traumas de cada um deles. Por isso Réquiem é meu longa predileto, é neste filme que essa característica se faz mais presente.
O filme é uma epopeia sobre os vícios, sejam de quais tipos forem, temos como tema básico três jovens viciados em heroína e cocaína e a mãe de um deles, viciada em televisão e anfetaminas. Porém, não se engane, isso é apenas um meio de mostrar os vícios internos que cada um de nós carrega.
Sara Goldfarb (viciada em televisão, inicialmente e posteriormente em anfetaminas), mãe de Harry (viciado em heroína), tem de sobreviver com as idas e vindas do filho drogado que empenha os utilitários domésticos para fazer dinheiro e sustentar o consumo de drogas. Uma idosa, viúva e com um filho viciado, que prefere iludir-se frente à tv a encarar a realidade de sua vida miserável.
Harry Goldfarb (já citado antes) busca o ideal de riqueza e felicidade trabalhando pouco (o sonho americano), e para isso, decidi juntar-se a Tyrone, seu melhor amigo, e revender a droga, que até então consumiam. Tyrone por sua vez, quer dar-se bem na vida, chegar lá não importe as consequências, enquanto Marion (namorada de Harry e viciada em cocaína e heroína) busca abrir uma loja de roupas mostrando seus designes inovadores e demonstrando que pode sobreviver sem a interferência dos país ausentes que a sustentam com dinheiro e nada mais.
Voltando a Sara, ela é convidada a participar de um programa televisivo, a realização de um sonho, aparecer na tv. Para isso ela decide vestir um velho vestido vermelho que não serve mais, a solução é emagrecer, então procura um "médico" para ajudá-la nessa missão. Aqui temos o claro exemplo de como a tv pode comandar a vida de alguém, que passa a existir em função de programas e aparências formados pela indústruia televisiva. Sua vida gira em torno da possibilidade de aparecer numa programa de tv.
Já seu filho prospera no negócio e as coisas vão bem, o dinheiro entra fácil e os três amigos prosperam com facilidade, afundando cada vez mais em suas ilusões... Até que as coisas se complicam e as drogas ficam escassas, já não tendo mais jeito de vender (nem mesmo de conseguir para consumo próprio). 
É nesse ponto que as coisas começam a ficar interessantes, vemos, cada vez mais claramente, o quanto uma pessoa pode degradar-se para conseguir o que tanto quer, mesmo sabendo que está ultrapassando seus próprios limites.
Há dezenas de filmes sobre o consumo de drogas e as formas de vícios vinculados às mesmas, porém Réquiem é diferente. Não vemos o mundo underground das drogas, com becos escuros e consumo escondido, temos um mundo real que bem poderia ser do seu vizinho ou até mesmo de um parente. O que temos em mãos não é um drama hollywoodiano barato mostrando o quanto pode ser ruim usar drogas, temos um filme psicologicamente forte, que mostra as reais consequências de um mundo deturpado pelo vício, seja ele em heroína ou na sociedade da mídia que impõe suas vontades de forma ditatorial.
O longa é baseado no livro de Hubert Selby Jr., Last Exit to Brooklin, publicado em 1964 e que já teve uma      versão cinematográfica em 1969 (Noites Violentas no Brooklin). Aronofsky aproveita-se do dinamismo de sua direção para compor um cenário quase onírico para seus pesonagens, explora angulos diferentes, usa lentes grande angulares para imagens pouco vistas nos cinemas, além de uma montagem fragmentada que eleva o longa à uma obra de arte perturbadora.
Todas essas características fazem do filme um imenso, violento e perturbador manifesto contra o uso de drogas e, apesar de ser recomendado para maiores de 18 anos, acredito que todos, principalmente os mais jovens, deveriam assistir esse longa (polêmicas à parte, acho que deveria ser exibido em escolas e praças públicas).
Enfim, se você gosta de um bom filme e está com os nervos em dia, fica a dica; um dos filmes mais pesados que já vi, sem concessões e com os 20 minutos finais mais angustiantes da história do cinema (isso fica por minha conta), mas que vale cada segundo.

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